terça-feira, 30 de setembro de 2014
Mixed signals
No destaque do INE de hoje:
O indicador de confiança dos Consumidores aumentou ligeiramente em setembro, mas o indicador de clima económico caiu no mesmo mês (a média dos últimos três meses é, ainda assim positiva).
O que quer dizer? Provavelmente, que as famílias estão mais optimistas que as empresas.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Para memória futura
Se os mercados tiverem confiança, a dívida é um assunto perfeitamente gerível desde que o saldo primário esteja equilibrado ou próximo. Isso consegue-se.
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Duas notas sobre o salário mínimo (editado)
Num salário mínimo de 485€ o empregador paga 23,75% de descontos para a segurança social. O que o Governo propõe no aumento do salário mínimo é aumentar o valor em 20 €, para 505€, mas reduzir o desconto dos empregadores para 23%.
Tudo visto e espremido e no que concerne à segurança social: em 20 euros de aumento 1 euro fica como custo das empresas e 19 como custo dos trabalhadores, que enquanto beneficiários vêem a Segurança Social ser descapitalizada naquele montante.
Depois falamos dos problemas de sustentabilidade da Segurança Social. Assim, não admira.
(ao não descontar sobre o adicional dos 20€ de responsabilidade da Segurança Social mas apenas, na prática, sobre uma fracção disso, estamos a criar responsabilidades futuras não cobertas. isto deveria ser facilmente compreendido: futuros pagamentos subsídio desempregom por exemplo, são sobre os 505€ e não 485€ mas o desconto não aumenta na proporcionalidade).
Outras maneiras de fazer as contas: no Expresso, no Público, no Económico e no Economia & Finanças ("Note-se que a TSU é uma contribuição relevante para o apuramento do valor das pensões futuras dos trabalhadores pelo que, a prazo, a queda da TSU terá consequências para os direitos adquiridos do trabalhador.")
Em adenda:
Sobre a questão acessória de saber se aumentar o salário mínimo gera ou não dificuldades na criaçãop de emprego, ideia muito em voga, leia-se:
1) http://www.newrepublic.com/ article/119440/states-raised- their-minimum-wages-had- stronger-job-growth
2) http://www.newrepublic.com/3) http://www.chicagobusiness.
4) http://www.nytimes.com/2013/
5) http://www.washingtonpost.com/
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Opinião Pública
Hoje, na ETV, com André Abrantes Amaral sobre a questão do aumento do salário mínimo nacional. Eu a favor, ele contra.
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Dos pormenores
Numa eventual situação em que um Banco seja vendido no mercado não por inteiro, enquanto unidade de negócios funcional mas "aos bocados" (estamos no plano teórico) o que acontece nas contas de quem "recebe" um bocado?
Bom, depende, vamos ver o caso de um crédito (de 1000€) e um caso de um depósito (de 5000€).
Se um Banco compra aquele crédito inscreve no seu balanço um activo (o direito de crédito) e do lado do passivo o montante pelo qual o comprou.
Se um banco compra aquele depósito inscreve um passivo de 5000€(o montante do depósito) e do lado do activo regista o montante de dinheiro recebido.
Agora, os bancos têm de manter determinados rácios, nomeadamente entre depósitos recebidos e créditos concedidos.
O que quer dizer que eu só posso comprar créditos enquanto tiver depósitos que os permitam. Mas isso já são outras contas.
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Opinião Pública
Há pouco, no ETV, com André Abrantes Amaral
Os dados referidos ali resultam, em parte, deste documento.
E a tese, que não será bem recebida, passa por este ponto:
As necessidades de capital do Novo Banco foram aferidas em função de um balanço provisório, qual foto tirada a 30.06.2014.
Mas a foto é apenas um momento do filme, que continua a desenrolar. Se tirarmos uma foto hoje temos uma queda dos depósitos (que o Expresso avaliou em 10 mil milhões de euros) e poderão ou não ter sido identificadas mais imparidades nos activos sob gestao.
A soma desses efeitos pode levar a que os rácios se estejam a deteriorar? Se for verdade, então a questão de ser eventualmente preciso mais capital tem de se colocar. e esse é um preço político que nenhum Governo gostaria de ter de pagar. A venda evitaria, se rápida, ter de tomar tal decisão.
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Duas ou três notas sobre a despesa em saúde
Com dados frescos do INE:
1) A despesa em saúde caiu em termos gerais
2) Essa queda resultou, acima de tudo, de um recuo do Estado como prestador, uma vez que as famílias aguentaram e até aumentaram o seu nível de consumo até 2012, quebrando depois em 2013:
3) A excepção a este cenário foram os hospitais privados onde a despesa subiu consideravelmente, denotando uma transferência dos recursos dedicados aos cuidados de saúde:
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Em cima da mesa de trabalho
De momento, isto.
Parte de um esforço mais alargado não só para compreender os limites jurídicos da actuação do BCE, mas também quais as opções económicas disponíveis e, aspectos que temos de tratar porque não lhes poderemos escapar, quais as politicamente viáveis.
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Off topic: quotas de género em cargos políticos
Esta é uma matéria seguramente melhor acompanhada nos domínios do direito constitucional e da ciência política (daí o off topic).
Se todos conseguimos saber institivamente se somos a favor ou contra, conseguir explicar porquê é mais difícil.
Assim, aqui ficam pistas importantes
A (in)justiça relativa da acção positiva– A influência do género na controvérsia sobre as quotas baseadas no sexo
Designing for Equality: Best-fit, medium-fit and non-favourable combinations of electoral systems and gender quotas
The Implementation of Quotas: African Experiences
“Moving Beyond Quotas inthe EU: An Emerging Stage of Democracy”
E porque é que os documentos são quase todos a favor da existência de quotas?
Porque a minha pré-compreensão sempre foi que, se era verdade que o problema da discriminação histórica das mulheres existe, as quotas eram a forma errada de os resolver porque dependem de um juízo em si mesmo "discriminatório", a ideia de que as mulheres precisam que a lei lhes garanta o lugar na política, que eu estava convencido que têm quando quiserem e como quiserem, como qualquer homem.
E, como bom académico que tento ser, fui à procura de dados que me desmentíssem. São os que ali estão.Se mudei de ideias? Sim, um bocadinho. Consigo admitir que posso estar a ser demasiado optimista demasiado cedo.
E, na já célebre síntese, descobri que consigo ser a favor de quotas para candidatas (todos os partidos têm de apresentar pelo menos 55-45 de relação entre sexos, indiferente qual deles tem 45 ou 55) desde que - o que em Portugal ainda não acontece - a votação seja feito por um método que permita aos eleitores escolherem o deputado da lista que querem eleger, ao contrário do que acontece actualmente, em que se vota num partido e a lista está fechada e decidida. Um bom ponto de partida para perceber isso (excelente, aliás, é mais justo) pode ser encontrado aqui.
Em que fico (por ora)? Nisto: admito que podemos forçar os partidos a apresentar candidatas femininas para que mais depressa se vençam bloqueios partidários mas não podemos nem devemos nunca forçar os eleitores a elegerem alguém só porque é de um determinado sexo (seja ele qual for) e há uma quota a preencher.
Complicado? É, e muito mais do que isto.
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Três notas sobre o Fundo de Resolução
1) O Fundo é do Estado ou dos Bancos?
Esta é fácil. O Artigo 153.º - B do RGIC (aqui) classifica o fundo como pessoa coletiva de direito público, dotada de autonomia administrativa e financeira e manda aplicar-çlhe, subsidiariamente, a lei-quadro dos institutos públicos.
2) Afinal, quanto contribuem os Bancos para o Fundo?
Em condições normais, os Bancos contribuem anualmente com mais ou menos 40 M€ e o Estado, por entrega do imposto especial sobre a Banca, com cerca de 130 M€. Portanto, quem financia maioritariamente o Fundo é o Estado, por afectação daquele imposto (ver Relatório e Contas de 2013, pp. 18 e ss).
3) De onde vieram os 4,9 MM€ para o capital do banco de transição NovoBanco criado no âmbito da reslução do BES?
Na sua maioria, e nos termos do Artigo 153.º - J do RGIC, de contribuições adicionais do Estado para o Fundo, sob a forma de empréstimos. De dinheiros públicos, obviamente.
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Empregabilidade dos cursos de direito
Então é isto (dados tirados daqui) onde podem verificar metodologias, etc. etc.
A reter? O Público dá, no geral, uma tareia ao Privado e a Católica tem melhor fama do que merece. Os valores não reflectem que há cursos aqui que licenciam 20 ou 30 pessoas por ano e outros 400 ou 500.
Em todo o caso, já dá para ir pensando.
Taxa desemprego | |
Universidade Autónoma de Lisboa Luís de Camões | 2,2 |
Universidade Nova de Lisboa - Faculdade de Direito | 2,7 |
Universidade de Lisboa - Faculdade de Direito (Dia e Noite) | 4,2 |
Instituto Superior Bissaya Barreto | 5,2 |
Universidade Católica Portuguesa - Faculdade de Direito (Porto) | 6 |
Universidade Lusíada | 6,2 |
Universidade Católica Portuguesa - Faculdade de Direito (Lisboa) | 7,3 |
Universidade de Coimbra - Faculdade de Direito | 7,3 |
Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes | 8,4 |
Universidade do Porto - Faculdade de Direito | 10,4 |
Universidade Lusíada do Porto | 11,1 |
Universidade do Minho | 11,4 |
Universidade Portucalense Infante D. Henrique | 11,6 |
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
Opinião Pública (and then some)
Acabar o Euro
Este post
corresponde ao artigo com o mesmo título publicado hoje no Diário Económico,
mas com o texto original (citado aqui em itálico) acompanhado da inclusão de
alguns gráficos e breves referências bibliográficas, incompatíveis com as
limitações de espaço naturais num artigo de opinião.
Mark Blyth, no seu recentíssimo “Print Less but Transfer
More - Why Central Banks Should Give Money Directly to the People” (com Eric
Lonergan) trouxe para a discussão pública uma questão que tem sido remetida ao
obscurantismo pela força dominante do pensamento alemão sobre o papel que um
Banco Central pode e deve ter quando confrontado com uma crise económica.
O artigo
está integralmente disponível no número deste mês da Foreign Affairs, e pode
ser consultado aqui.
Com
interesse manifesto ver também as referências ao mandato do BCE, que tive o
prazer de discutir directamente com o próprio, numa visão mais “jurídica” dos
Tratados no seu ““The Sovereign Debt Crisis That Isn’t: Or, How to Turn anLending Crisis into a Spending Crisis and Pocket the Spread”.
Se aceitarmos a premissa de que, perante um cenário de
inflação muito baixa, ou mesmo deflação, com taxas de juro já próximo do zero,
o Banco Central deixa de conseguir estimular a economia com políticas
monetárias ditas convencionais (via taxa de juro), temos de aceitar a consequência:
são precisas medidas não convencionais. De preferência, já.
Mas até aí a Europa enfrenta um cenário difícil. Copiar
as políticas não convencionais americana, inglesa ou japonesa é uma solução
melhor que não fazer nada, mas está longe de ser a ideal. O chamado
Quantitative Easing depende um sector financeiro capaz de funcionar como correia
de transmissão à economia real do alívio monetário, mas temos uma Banca tolhida
pelo peso de balanços gigantescos cuja limpeza de imparidades está por fazer.
Os dados
em presença são estes (retirados a conferência de Mark Blyth em Lisboa, a
convite do IDEFF, disponível aqui).
É verdade
que os Bancos americanos têm balance sheets muito expressivas:
Mas não é
menos verdade que a situação é muito pior na Europa, mais de duas vezes pior:
E,
cálculos nossos, o mesmo se passa em Portugal (dados de finais de 2012):
Mais
provas fossem precisas, basta termos em conta que dois gigantescos LTRO se
traduziram em resultados nulos quanto à concessão de crédito à economia, que
continuou em queda:
É nesse contexto que a proposta de Mark Blyth assume
particular importância: oferece um caminho alternativo e com vantagens. O estímulo
monetário à Economia feito directamente junto das famílias é, desde logo, mais
rápido nos seus efeitos. Como cada pessoa terá as suas prioridades (consumo,
aforro, investimento), não teremos a criação de bolhas de activos, como é
provável no QE tradicional. E, por fim, pode por essa via fazer‑se um reequilíbrio
ad-hoc e interino, da Zona Euro, que continuará a precisar, para o futuro, de
mecanismos permanentes com o mesmo objectivo. A reacção não será boa. Para além
do fantasma alemão da inflação (historicamente falso e culturalmente empolado),
vamos ouvir falar de “radicalismos”. Mas esta é uma proposta tudo menos marginal.
Basta ver o que sobre ela escreveram, entre outros, Milton Friedman, ou Bernard
Bernanke.
Sobre o
erro histórico alemão de associar o fenómeno da inflação ao surgimento do
regime nazi, sendo que o mesmo beneficiou muito mais do período de deflação
pode ver-se o excelente sumário da insuspeita Economist, e as fontes aí
referidas.
Para
melhor conhecer a posição de Bernandke ver aqui.
Sobre a política
monetária e em complemento recomenda-se ainda “Revisiting Monetary Policy in aLow-Inflation and Low-Utilization Environment” ou “The Potential Instruments of Monetary Policy”.
O óbice final? A Alemanha, que continua a fingir que não
percebe que, enquanto uma das maiores beneficiárias do Euro, sob a forma de uma
zona de comércio livre para os seus produtos com 500 milhões de consumidores e
uma taxa de câmbio manifestamente mais favorável do que a que teria sozinha, não
pode continuar a insistir em reservar esses ganhos para si e só para si. Entre
1992 e 2012 o PIB per capita alemão aumentou 450€. O português? 20. Alguma
coisa tem de ser feita.
Quanto ao
benefício em termos cambiais da Alemanha vejam-se os seguintes dados (de Dominick
Salvatore):
A
quantificação dos dados sobre os ganhos no PIB per capita resulta de um paper
recentíssimo (disponível, no sumário em inglês, aqui),
de que se destacam estas informações, citadas no texto:
Não seria a primeira vez que a Alemanha destruía a
harmonia na Europa, mas convém ainda assim evitar que tal se repita. Só depende
de todos nós.
Esta conclusão, infelizmente, não precisará de fontes ou dados adicionais. É dos livros de História. Aquela que, inflizmente, se pode sempre repetir.
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