[Expresso, Caderno de Economia]
Paul Romer publicou por estes
dias um artigo intitulado “The trouble with macroeconomics” no qual, com igual
mestria no uso do rigor técnico e do humor, desfaz, de uma vez, os defensores
de modelos macroeconómicos com nomes tão apelativos como “RBC” ou os seus
sucessores envergonhados, os “DSGE”.
Se não percebeu nada, não faz
mal. A aparente complexidade e deliberada opacidade destes modelos serve
precisamente o propósito de disfarçar a sua inerente e irremediável inutilidade.
São usados, dizem-nos, para “prever” o andamento da Economia.
Pior, foram muitas vezes usados
para validar ou invalidar determinadas opções de política orçamental e
económica. Em Portugal, este tipo de modelos e a sua utilização ficaram conhecidos
como o Excel do Gaspar. Se se recordam, qualquer semelhança entre as previsões
ali feitas e a realidade foram mera coincidência.
A razão, já o sabíamos, é que estes
e outros “modelos” do género são incapazes de (re)conhecer a realidade, feridos
de morte pela sua falta de cientificidade, mal disfarçada pelo uso extensivo de
pseudo complexas fórmulas matemáticas, as quais, uma vez espremidas, não são
mais do que um exercício de pura especulação ao nível da astrologia (a qual,
não por acaso, também se socorre de pretensos cálculos complexos, apenas
acessíveis a uns poucos iniciados).
Paul Romer não é o primeiro a
dizê-lo, mas é uma voz importante, não tanto por ser um académico respeitado,
com dezenas de artigos publicados, tendo passado pelas Universidades de
Chicago, Berkeley, Stanford e Nova Iorque, mas porque acaba de ser nomeado para
economista-chefe do Banco Mundial. O que era dito apenas por pessoas
deliberadamente mantidas fora do circuito “certo” do pensamento macroeconómico
(outro aspecto que o artigo trata de forma superior) é agora trazido para o
mainstream.
Talvez agora se possa voltar a
dizer que a Economia não se faz de e para fórmulas abstractas, mas de e para as
pessoas. Porque, no fim, se uma Economia não serve as pessoas (a maioria das pessoas),
serve para quê?
Do ponto de vista das Finanças Públicas, que
é o meu, isto permite que as voltemos a pensar como Sousa Franco as via: “verdadeiro termómetro das relações concretas entre o poder e a sociedade que o integra,
bem como das tarefas que esta leva o poder a desempenhar, e do modo como os
grupos, estratos ou classes sociais se situam perante o poder, beneficiando dos
seus gastos ou suportando o respectivo custo”.
Já não era pouco. Devíamos pensar
nisso.