quinta-feira, 8 de maio de 2014
Opinião Pública
No DE de hoje:
Pedro e o Lobo
A trapalhada - não há outro nome - em torno da carta de intenções não se compreende.
Por muito que se procure a racionalidade das questões e uma visão mais de longo prazo, menos afectada pelo imediatismo e mediatismo de cada dia, não se encontra.
À partida o País mais politizado e próximo da maioria olhou para o assunto e concluiu que o Governo foi incompetente na forma como geriu a comunicação. Esta é a versão bondosa, note-se.
A outra é que o Governo está a mentir, e vêm lá más notícias.
Infelizmente, e sabendo-se entretanto que afinal a dita carta só será conhecida depois das eleições não é difícil - e o comportamento do Governo não só autoriza como torna quase inevitável esse raciocínio - que se pense que vem lá outro DEO.
É normal que a Carta de Intenções subsequente à avaliação seja conhecida um mês depois de ela ter sido "concluída"? É sim. Veja-se o que aconteceu na última avaliação: Foi concluída a 28.02.2014 e a Carta de Intenções foi conhecida exactamente um mês depois. E tem sido sempre assim (http://www.imf.org/external/country/PRT/index.htm).
Sendo normal, podemos ficar descansados? Infelizmente, não. Como se trata do mesmo Governo que expressamente garantiu que o DEO não trazia aumentos de impostos (e trazia), que ia repor vencimentos dos funcionários públicos e não repõe (embora tente fingir que sim) é, como o título sugere, uma clássica situação de Pedro e o Lobo, essa velha história infantil.
O Governo está provavelmente a dizer a verdade.
O problema é que, como na fábula, já ninguém acredita no Pedro. E isso diz tudo. Um Governo em que ninguém acredita não tem legitimidade. Pedro, este e o da história, só se podem queixar de si próprios.